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Pra começar bem o dia

Posted by Will Scaliante on 12:21 in
O viver quando velho
Wilame Prado
Como alguém que completou 80 anos deve ver o pôr-do-sol? E uma despedida? Para alguém já com uma certa idade, o quê deve significar um ‘simples’ tchau? O que será que nossos avós sentem quando nos despedimos, prometendo voltar em breve? Será que ficam aliviados de terem se livrado de um jovem sem espírito e coração? Ou pressentem que será a última vez que verão os filhos dos seus filhos?

Não deve ser tarefa das mais fáceis viver um dia de cada vez, sabendo que o futuro é incerto e que as chances de ser ter a vida esgotada são muito maiores do que há alguns anos atrás. Por isso mesmo, penso que viver quando velho deve ser algo intenso, uma vida cheia de rituais importantes e agradecimentos mais sinceros até mesmo pelo ar que se está respirando, pela comida que se está ingerindo, pela presença, ainda que rara, de parentes e amigos queridos.

Antes de começar a escrever, pensei em podar a minha expressão linguística, tornando-a politicamente correta e, convenhamos, totalmente eufemística. Traduzindo, iria usar o termo “idoso” e não “velho”. E que me desculpem os velhinhos, mas quando eu tiver mais idade não quero ser chamado de idoso. Pretendo aceitar a minha velhice. É o processo natural. O tempo passa, o tempo voa. As coisas envelhecem, inclusive o ser humano. E isso não significa dizer que o velho é ruim. Lembrem-se dos uísques doze anos.

O professor Claudio Stieltjes, coordenador geral da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) da UEM, deve concordar comigo quando o assunto é eufemismo. Dias desses, tive o prazer de entrevistá-lo. Entre outras coisas, ele me disse que preferia o termo “terceira idade” ao termo “melhor idade”. Como muito bem pontuou a professora Regina Taam, coordenadora pedagógica do Unati, a melhor idade é quando estamos vivemos momentos bons. E isso pode acontecer quando criança, quando adolescente, adulto ou bem mais velho.

O desafio de se viver bem se torna maior na velhice, creio. Uma pessoa mais velha naturalmente encarou, por exemplo, muitos velórios de entes queridos. As pessoas ao redor vão morrendo. Um amigo aqui, outro amigo lá. Os pais, há décadas já se foram. Alguns filhos também podem acabar morrendo. E isso parece ser algo triste mesmo. Há muitos motivos para se entristecer, sejamos sinceros.

Mas, o que fazer nessas horas? Para onde correr? Entregar-se? Não, pois, com 5, 25 ou 85 anos de idade, aquele sol vai estar se pondo pela tarde e acharemos bonito o crepúsculo, os rituais precisarão ser cumpridos, os agradecimentos deverão ser feitos religiosa e diariamente. Além do que, aquele sorriso sincero do seu bisneto te fará perceber o quanto ele se parece com seu neto, que se parece com seu filho.

Percebendo que a vida continua com o repasse genético de gerações e gerações, o velhinho finalmente chega a conclusão de que também há motivos para se alegrar. É quando ele se pega, em um dia qualquer da semana, enquanto coa aquele café de manhãzinha, com um quase sorriso esboçado no rosto enrugado e a cantarolar uma música bonita que o faz lembrar de uma moça muito bonita e que um dia ele chamou de meu amor.

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